Disclaimer
A parrot told me the following fabula. This parrot claimed to be the descendant of two Amazon parrots, discovered by Alexander von Humboldt in 1799, who continued to speak the dead language of the extinct Maipure people. I calculate my parrot informant to be of the fifth generation of this illustrious couple. Of the pair, one parrot was left behind in Brazil; a single parrot, she continued to nurture her young brood on the abundance of the forest: cacao, macaúba, açai, sapoti, Brazil nuts, etc. Meanwhile, her partner was sent away to Prussia to be studied. Von Humboldt, a naturalist, must have known that parrots are monogamous, tied to each other for life, but no, it was determined that the talkative one, which turned out to be the male, should be studied. The blabbermouth was sent away, a dead language captured in his feathered body.
However, in fact, the parrot couple were having a conversation, one completing the thoughts of the other. I later discovered that the silent response of the female was quite simply ironic, as if she were rolling her eyes to demonstrate her disgust or incredulity. In the meantime, her male companion pratered on self-importantly; after all, he would be the one chosen for a future in Europe. To know the entire story requires both sides, two memories fused into one. Admittedly, despite faithful transmission over five parrot generations, I have worked with this disadvantage, but after years of careful and intimate study, I have been able to interpret one-half of an extinct language, and therefore, one-half of the story. What happened to the other European half, I can only speculate, but I am told that the deciphering of the captured male parrot’s babble was undoubtedly the foundation for the structural linguistic theories of Ferdinand de Saussure. One imagines that the solitary male parrot died piteously in some dank asylum in Königsberg, squawking unintelligible histrionics; however, his stuffed body, gloriously red-crowned noggin and emerald feathers, is today displayed regally in the Museum für Naturkunde in Berlin.
Admittedly, my original plans were to rediscover on the Brazilian coast the location of Uwattibi where Hans Staden was captive to the cannibal Toppinikin in 1550. One hundred and sixty years later, in 1710, Lemuel Gulliver in the same vicinity would encounter the repulsive Yahoo and the virtuous Houyhnhnm. When I arrived, Uwattibi had been transformed into a tropical hotel resort—turquoise waves, spume-tipped, tickling pristine and bleached sands; bikinied and speedoed bronze bodies rising from tepid waters in slow liquid motion; palm trees with coconuts filled with cachaça, bending as if in offering. True, the Yahoo population continues in various stages of latent evolution and dissipation, but the Houyhnhnm, like the Maipure, are most likely also extinct.
Unable to pay the exorbitant resort prices, not having anticipated a package deal, I ventured on foot up to an altitude of 1,500 meters above sea level into the Mata Atlântica where I fortuitously met the parrot. Living in a thatched mud hut tucked within a hidden valley of flowering anjicas at the effluence of seven natural springs and protected by raucous hives of African bees, I communed with the parrot for the next decade. Indulging on the providence of the forest—mango, banana, guava, caju, amidst the wafting stink of rotting fruit, the result of our exchange follows. As I eventually discerned from careful listening, the parrot was performing in dialogue her half of the story. What I have recuperated here is of course speculative, however confirmed by the parrot herself; that is to say, she would only continue her dialogue with me if my responses were, in her keen discernment, passable. I am entirely indebted to the parrot’s patient and repetitive instruction and fully acknowledge my own incompetence. I have endeavored to translate as fully as possible her story, and any errors are mine alone.
Washington Chateaubriand silva
Isenção de responsabilidade
Uma papagaia me contou a seguinte fábula. A papagaia se dizia descendente de dois papagaios amazônicos, descobertos por Alexander von Humboldt em 1799, os quais continuavam a falar a língua morta do extinto povo Maipure. Calculei que minha papagaia informante fosse da quinta geração desse casal ilustre. Desse par, a papagaia foi deixada no Brasil; sozinha, ela continuou a cuidar de sua ninhada jovem valendo-se da abundância da floresta: cacau, macaúba, açaí, sapoti, castanhas do Pará, etc. Enquanto isso, seu companheiro foi mandado à Prússia para ser estudado. Von Humboldt, um naturalista, deve ter sabido que os papagaios são monógamos, ligados um ao outro pelo resto da vida; mas não, foi determinado que o papagaio mais falador, o qual mostrou-se ser o macho, deveria ser estudado. O tagarela foi despachado, uma língua morta capturada no seu corpo emplumado.
Contudo, na realidade, o casal de papagaios estava tendo uma conversa, no qual um completava os pensamentos do outro. Mais tarde descobri que a resposta silenciosa da fêmea era muito simplesmente irônica, como se ela estivesse revirando os olhos para demonstrar seu desagrado ou sua incredulidade. Entretanto, seu companheiro macho continuava a papaguear, cheio de si; afinal, ele seria o escolhido para um futuro na Europa. Saber a história inteira requer os dois lados, duas memórias fundidas em uma. Reconheço que, apesar da transmissão fiel por cinco gerações de papagaios, trabalhei com essa desvantagem, mas depois de anos de estudo cuidadoso e aprofundado fui capaz de interpretar a metade de uma língua extinta e portanto, a metade da história. O que aconteceu com a outra metade europeia, só posso especular, mas me foi dito que a decifração do balbucio do papagaio macho capturado, foi, sem dúvida, a formação para as teorias linguísticas de Ferdinand de Saussure. Imagina-se que o solitário papagaio morreu deploravelmente em algum asilo frio e úmido em Königsberg, grasnando acessos incompreensíveis; contudo, seu corpo empalhado, com sua cabeça gloriosamente coroada de vermelho e suas penas verde-esmeraldas, hoje é exibido soberanamente no Museu für Naturkunde em Berlin.
Francamente, meus planos originais eram redescobrir no litoral brasileiro a localização de Uwattibi, onde Hans Staden foi mantido cativo pelos canibais Tupiniquins em 1550. Cento e sessenta anos mais tarde, em 1710, Lemuel Gulliver, nas mesmas redondezas encontraria os repulsivos Yahoo e os repulsivos Houyhnhnm. Quando cheguei, Uwattibi tinha sido transformada em um hotel resort tropical—ondas turquesa, pontilhadas de espuma, areias alvejadas e pristinas que fazem cócegas; corpos bronzeados em biquínis e sungas emergindo de águas tépidas em movimentos líquidos e de câmera lenta; palmeiras com cocos cheios de cachaça, curvando-se como em oferenda. Com certeza, a população Yahoo continua em vários estágios de evolução latente e dissipação, mas os Houyhnhnm, como os Maipure, estão muito provavelmente extintos também.
Sem condições de pagar os preços exorbitantes do resort e sem ter antecipado um pacote de promoção, eu me aventurei a pé a uma altitude de 1.500 metros acima do nível do mar para dentro da Mata Atlântica onde eu por sorte encontrei a papagaia. Vivendo em uma palhoça de barro e palha enfiada em um vale escondido de anjicas em flor na efluência de quatro fontes naturais e ao lado de colmeias estridentes de abelhas africanas, convivi intimamente com a papagaia pela década seguinte. Aproveitando-nos da providência da floresta—mangas, bananas, goiabas, cajus, em meio ao fedor de fruta podre pairando no ar, o produto da nossa interação é descrito a seguir. Como eu eventualmente discerni ao ouvir atentamente, a papagaia estava executando em diálogo a sua metade da história. O que eu recuperei aqui é obviamente especulativo, todavia confirmado pela própria papagaia informante; ou seja, ela só continuaria seu diálogo comigo se minhas respostas fossem, de acordo com o seu discernimento aguçado, aceitáveis. Tenho uma grande dívida de gratidão por sua instrução paciente e repetitiva e admito completamente minha própria incompetência. Foi minha intenção traduzir o mais completamente possível sua história e quaisquer erros são meus e de mais ninguém.
Washington Chateaubriand silva
M’boitatá
Deep in the dark virgin forest, Mother Tongue met Father Penis. Mother Tongue filled the forest with laughing chatter and gutturals. Father Penis, deaf and dumb, slithered round and round, doodling nonsense on the loamy earth, leaving a wake of slime on everything: foliage, butterfly, sloth, fungus, stone.
Mother Tongue savored everything: foliage, butterfly, sloth, fungus, stone. She crooned and conjectured, what was that additional slimy taste?
Hungry and to light the way, Father Penis ate the eyes of everything: monkey, cicada, frog, toucan, potato.
Mother Tongue, sightless, heard their cries.
Filled with eyeballs, Father Penis became a long luminous sausage.
But blinded, what good is light?
Water dripped to stone. Drip drip drip.
Tatá tatá tatá.
Stone opened a space to water. This took a long, long time.
But what is time?
Time is work.
What work?
I’m a parrot. How should I know?
Lazy creature.
Days, weeks, months, years. Sun days. Moon nights. Rain and flood. Dry and drain.
Tatá tatá tatá.
Water impressed its translucent liquid into stone. Kiss kiss kiss.
Aí, what boring allegorical foreplay. Get on with it.
Okay, okay. But first, a tiny cradle, a hammock, a lovers’ nest, had to be made.
A stone basin?
Minimalist and natural.
Uncomfortable, but so Zen.
Father Penis slithered into that stone indentation, a kaleidoscope of shimmering color cascading from above. A beautiful, haunting sight worthy of the colored pencil of Paul Klee.
That? The luminous dick?
Meanwhile Mother Tongue wandered toward the liquid sound:
Tatá tatá tata.
Parched, she thrust herself into the mellifluous cataract. And that was that.
What?
Mother Tongue and Father Penis played in their stone nest. Ah ah hmmm hmmm hmmm ah ah ah AHA! Water and slime. Light and sound. M + Boi / tatá = M’boitatá.
The birth of our hero.
Correction: heroX.
Like LatinX.
Like SeX.
True, this naturally camouflaged child of the forest, M’boitatá, had a black penis and green breasts
(although those little titties would appear much later),
double-jointed appendages that embraced forward and behind, as well as swivel feet pointing forward and back. Baby M’boitatá straddled Mother Tongue’s back, their little penis wiggling behind, attentive to a receding world. When Father Penis commanded, follow me, M’boitatá obeyed the direction of their swiveling feet, losing the way in circles, impossible to track.
I thought Father Penis was deaf and dumb.
Ah, but he gesticulated in queer penis sign language.
And M’boitatá?
Apart from or perhaps aided by an eccentric physique, a robust child. Super functional. The birth of song and storytelling.
Oh, another one of those predictable creation myths.
M’boitatá was a prodigy.
Of course.
Spoke in full sentences and complex algorithms at three months. Sang opera in seven languages, anticipating, on harmonica, the haunting repetitive compositions of Villa Lobos and Philip Glass. Interviewed the virgin forest and memorized her memoir. Recreated the last supper of Bishop Sardinha and his thirty companions in a mural intricately employing 100,000 feathers of 1,300 species of tropical birds.
The mural was ephemeral;
the feathers blew away in a hurricane. What a beautiful sight, all those feathers flying into the atmosphere for one last time.
Hey, there are no hurricanes in Brazil.
Okay, the mural, along with 20 million objects, the archeological repository of the South American continent, was destroyed when the National Museum inside Quinta da Boa Vista in Rio de Janeiro burned to the ground.
You lie.
What does it matter?
True, except for us, all those birds are dead or extinct.
Ai, que saudades.
Ai, que preguiça.
You got ahead of the story.
That’s because you interrupted my story.
Our story. Continue, please.
M’boitatá, our heroX, found themselves crawling and climbing backwards and forwards, spiraling and circling the great forest, licking and fondling everything in their path. Like Father Penis, with a tiny lantern dick, they scavenged the midnight forest floor.
Like Mother Tongue, deploying echolocation, they spiraled the canopy, bounding in monkey loops and twists, fluttering with birds, following insects up and down, backwards and forwards.
Similarly, they dove into the rivers and flooded forest, ate dropping fruit with tambaqui, followed schools of piranha, hid in the shallows with electric eel. M’boitatá mimicked the movements and life cultures of every living creature, of every living plant that waved, shuddered, or shook in the wind or rain, in growth and death.
M’boitatá, tongue-penis, mimicked, sang, and conversed with every animate and inanimate sound.
M’boitatá, penis-tongue, cajoled, postured, danced, and played, arousing desire in every living thing. Forest imp and trickster, embedded spirit and sentient angel.
But, there must have been a downside. After all, M’boitatá was rather ugly and very clumsy. They didn’t even make a nice-looking bird.
Maybe a good-looking spider?
Do you remember the time M’boitatá tried to weave their shit into a web? What a mess.
M’boitatá ate everybody’s detritus: poop, guano, spider web, shed skin, wing, shell, rot. Scooting around as they did and coming upon the stuff, it was out of curiosity.
Processed food.
To be honest, M’boitatá ate everything and anything, an equal opportunity feeder, an environmental recycler.
Taste tester. Foodie connoisseur. Over-exercised palate. Gourmandism.
Iron chef.
Iron stomach. The forest was its own feast, recycling itself into itself. Exuberant. Extravagant. Overabundant. No one should go hungry. Isn’t this paradise?
No one could go hungry. If you could go hungry, would you be better?
Better what? I’m a parrot. What sort of question is that?
Spit out from the combining genitals of Mother Tongue and Father Penis, baby M’boitatá was so cute, cradled under a constant shower in that perfect nest of stone.
Mother Tongue licked and lullabyed. Father Penis prodded and tickled.
M’boitatá, nestled and nurtured, sucked in sound and sensibility. One day, too big, they fell out of the stone nest, tumbled away, and set forth to discover their world, journeying in the rainy season with the birds, butterflies, monkeys, and fish from place to place and pausing in the dry season to sample one tribal concentration after another.
Nomadic peregrinations, zigzagging the forest, sampling every desire and delight.
One dry season, M’boitatá met AiAi. Maybe it was the shimmering rainbow. She reached through, one bold graceful arm, parting its curtain and appeared, dazzling, the most beautiful creature M’boitatá had ever witnessed.
And to be sure, by this time, they had been everywhere and seen everything.
How had they never run into AiAi?
A mythical being conjured by M’boitatá. A tropical apsara.
Ah, but a shapeshifter to be sure. At night, she returned to her other self.
What other self?
A slow moving, hanging upside-down hairy sloth.
At night, M’boitatá could snuggle into her immense rocking hammock of a body.
AiAi AiAi AiAi.
Short story long, they fell in love.
You mean, they and she fell in love. Takes two to tango.
We don’t tango in Brazil.
From that time on, M’boitatá and AiAi peregrinated always together, sharing a nomadic life.
Many years of nomading, communing with every tribe.
All four hundred?
Yanomami, Xipaya, Wariku, Txikao, Sikiama, Saliba, Nutabe, Mayorun, Nanao, Kayapo, Kandoshi, Haumbisa, Duit, Cashibo, Bora, Baniya, Arua, Arabela, Zoe, Yaminawa, Wirina, Wapishana, Tuxinawa, Shuar, Poyanawa, Muiniche, Matis, Madi, Kaxuiana, Jurti, Huachipaeri, Deni, Cara, Baure, Bakairi, Arawak, Apurina, Amuesha, Aikana, Yawanawa, Yabirana, Wayana, Waiai, Tubarão, Shibibo, Pasto, Munduraku, Maco, Kaxarari, Jebero, Hixkaryana, Chayahuita, Capanahua, Bare, Atruahi, Arawa, Apinave, Amarekaeri, Aguaruna, Yawalpiti, Yabaana, Waura, Vilela, Tacana, Sharanahua, Paresi, Mvima, Mrubo, Mchiguenga, Katikina, Irantxe, Guarequena, Chamicuro, Cahuarana, Bara, Ashaninka, Arara, Apalai, Amahuaca, Achuar-Shiwiar, Yaruma, Xiriana, Warao, Urarina, Suruwaha, Saluma, Palikur, Meinaku, Maquiritari, Kuikuro, Kankuamo, Huarayo, Guarani, Cashinahua, Bororo, Baniwa, Aruan, Araona, Ankoke, Akurikyo, Achagua.
One day, M’boitatá and AiAi happened upon a new tribe, the Fraugudomijesu.
They weren’t really a tribe.
Not a tribe per se. More like a mocambo of escaped missionaries excommunicated from a theology of liberation.
Liberation?
Liberate the Indians.
What a concept. Then what?
They welcomed the wandering M’boitatá and AiAi into their fold.
Folded in like mashed bananas into vanilla cake batter.
But, fortunately, not baked. They escaped.
I heard they were caught red-handed.
But you can imagine how tempting it must have been to partake of that gorgeous blond body, lying in waxy state under dim lights.
Only if you’re an urubu.
What did they eat? The fingers? The toes? The nose? The ears?
Who knows? Maybe the nipples. One each. And then they ran, that tribe of crazies chasing after.
Luckily, it was the crack of dawn, and AiAi turned from nighttime sloth into her visceral flying acrobatic self. They ran like the wind, M’boitatá’s feet swiveling this way and that so that their tracks were incomprehensible.
And that pack of liberationists yelling after hysterically and every which way: The body of Jesus! The blood of Jesus!
It was an exciting escape, finally leaping into a tremendous waterfall, riding its resplendent cascade, plummeting, then churning, then floating until beachside.
Beachside in Uwattibi.
Where the Toppinikin had settled strategically in a serene, apparently safe bay, to catch those unaware explorers, come to colonize the savages.
Little did those explorers know.
Like tourists, they paddled their boats and trinkets into that calm and balmy bay, looking for the red-light district. The Toppinikin got lasciviously naked and greeted those men like they were the first ever with pink skins to arrive in paradise.
It was a trap.
They were treated very humanely. Fed and sexed. Fattened and greased. An organic-only diet. And free-ranged.
There was nowhere else to go.
Why would they want to leave paradise?
But, what about M’boitatá and AiAi?
Oh, they were already brown and naked; they just blended in with the natives.
Uwattibi turned out to be very cosmopolitan.
M’boitatá and AiAi could stroll the outdoor markets, the sweet smoke of barbequed humanity wafting. The vendors called out, invited them to experiment, a tasty morsel of carefully cultivated français, or português, or alemão, or holandês. A mixed skewer, if you please.
Aí que gostoso! What about the indígena?
A little gamey, extremely lean, and a bit stringy, but of course completely multi-natural.
Unlike the sophisticated savor of the fatty foreigner. A carnivore’s delight, but it couldn’t last.
Maybe it was the export business. Maybe that guy Brillat-Savarin wrote an article, and folks got greedy. Who knows. Before that, everyone was fed and satisfied, a utopian ideal. Then, they desired more.
Phoenix and unicorns. Desire for the mythical.
One day, someone discovered that the beautiful AiAi became a sloth at night. She would be unapproachable in the light, but in the dark, hanging from a tree, she was the slowest creature in the forest. A forest apsara, a changeling. What would it be like to eat such a gorgeous creature?
To eat aphrodisia herself?
M’boitatá and AiAi heard the rumors. They made a plan to escape, but AiAi knew.
After day came night, again and again.
The Toppinikin sent their finest hunters; there would be no escape.
Deep in the forest, M’boitatá croaked and croaked, and hundreds of frogs—yellow, blue, green, red, copper, gold—heard their love call.
AiAi pressed her lips to each phosphorescent frog and sucked out their poisonous glands. Then, at nightfall, she hung lazily, M’boitatá cradled as always in her soft bosom and cozy tummy. They made sweet love and slept. The hunters arrived, unsuspecting of such easy prey. AiAi tumbled to the forest floor, and M’boitatá scampered to the top of the canopy.
Back in Uwatibbi, the hunters were regaled with honors and great ceremony, and AiAi was trussed and recreated into a cuisine extravaganza, a sliver of her poisonous body tasted by everyone.
Her deadly exquisite corpse.
And that is how the entire tribe of the Toppinikin vanished from the face of the earth.
Heartbroken, M’boitatá wandered in a direction divined to be home. Over time—their lifetime, dripping water had carved a larger nest into the stone basin birthplace.
M’boitatá curled into that smooth slippery bowl and waited.
Waited for the dissolution of stone and self.
Tatá tatá tatá.
Fim.
M’boitatá
No fundo da floresta virgem e escura, Mãe Língua conheceu Pai Pênis. Mãe Língua encheu a floresta com falas animadas, risos e sons guturais. Pai Pênis, surdo e mudo, serpenteava em círculos, fazendo desenhos sem sentido na terra argilosa, deixando um rastro de lodo em tudo: folhagem, borboleta, preguiça, fungo, pedra.
Mãe Língua saboreava tudo: folhagem, borboleta, preguiça, fungo, pedra. Ela cantarolava e conjecturava: o que era mesmo esse gosto viscoso extra?
Faminto e de forma a iluminar o caminho, Pai Pênis comia os olhos de tudo: macaco, cigarra, rã, tucano, batata.
Mãe Língua, cega, ouvia seus gritos.
Cheio de globos oculares, Pai Pênis se transformou em uma comprida linguiça luminosa.
Mas sem visão, para que serve a luz?
A água pingava na pedra. Pinga pinga pinga.
Tatá tatá tatá.
A pedra abriu um espaço para a água. Isso levou muito muito tempo.
Mas o que que é o tempo?
O tempo é trabalho.
Que trabalho?
Eu sou uma papagaia. Como é que vou saber?
Criatura preguiçosa.
Dias, semanas, meses, anos. Dias de sol. Noites de lua. Chuva e enchente. Seca e drenagem.
Tatá tatá tatá.
A água imprimiu seu líquido translúcido na pedra. Beijo beijo beijo.
Ai, que amassos alegóricos chatos. Continua logo.
Tudo bem. Mas antes, um bercinho, uma rede, um ninho para amantes teria que ser feito.
Uma bacia de pedra?
Minimalista e natural.
Desconfortável, mas tão Zen.
Pai Pênis deslizou para dentro daquele entalhe da pedra, um caleidoscópio de cores cintilantes caindo em cascata desde o topo. Uma visão assustadora e linda, digna do lápis colorido de Paul Klee.
Aquilo? O pau luminoso?
Enquanto isso, Mãe Língua vagueava em direção ao som líquido:
Tatá tatá tatá.
Ressequida, ela se jogou na catarata melíflua. E assim foi.
O quê?
Tatá tatá tatá.
Mãe Língua e Pai Pênis brincaram no seu ninho de pedra. Ah ah hum hum hum ah ah ah AHA! Água e lodo. Luz e som. M + Boi / tatá = M’boitatá.
O nascimento de nosso herói.
Correção: heroX.
Como LatinX.
Como SeX.
É verdade, essa criança naturalmente camuflada da floresta, M’boitatá, tinha um pênis preto e seios verdes
(embora aquelas maminhas só aparecessem muito mais tarde),
apêndices duplamente articulados que abraçavam pela frente e por trás, além de pés giratórios que apontavam para frente e para trás. O bebê M’boitatá montava as costas da Mãe Língua, seu pequeno pênis se sacudindo atrás, atento a um mundo que retrocedia. Quando Pai Pênis ordenava: siga-me, M’boitatá obedecia a direção de seus pés giratórios, perdendo-se em círculos, impossível de rastrear.
Eu pensei que Pai Pênis era surdo e mudo.
Ah, ele gesticulava em linguagem de sinais peniana queer.
E M’boitatá?
Apesar de, ou talvez auxiliado por um físico excêntrico, uma criança robusta. Superfuncional. A origem da música e da contação de histórias.
Ah, mais um desses mitos de criação previsíveis.
M’boitatá era um prodígio.
Mas, é óbvio.
Falava em frases completas e algoritmos complexos aos três meses. Cantava óperas em sete línguas, antecipando, na gaita, as composições repetitivas e assustadoras de Villa Lobos e Philip Glass. Entrevistou a floresta virgem e decorou suas memórias. Recriou a última ceia do Bispo Sardinha e seus trinta companheiros em um mural, intricadamente empregando 100.000 penas de 1.300 espécies de pássaros tropicais.
O mural foi efêmero;
as penas voaram em um furacão. Que linda visão, todas aquelas penas voando pela atmosfera pela última vez.
Epa, não há furacões no Brasil.
Tudo bem, o mural, junto com 20 milhões de objetos, o repositório arqueológico do continente sul-americano, foi destruído quando o Museu Nacional na Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro foi reduzido a cinzas em um incêndio.
Mentira.
Qual é a diferença?
É verdade, exceto por nós, todos aqueles pássaros estão mortos ou extintos.
Ai, que saudades.
Ai, que preguiça.
Você se adiantou à história.
Foi porque você interrompeu a minha história.
Nossa história. Continue, por favor.
M’boitatá, nosso heróiX, se viram rastejando e trepando para frente e para trás, em espirais e círculos pela grande floresta, lambendo e acariciando tudo em seu caminho. Como Pai Pênis, com um pinto como uma minilanterna, vasculharam o solo da floresta noturna.
Como Mãe Língua, utilizando a ecolocalização, escalaram em espiral o dossel da floresta, saltando em acrobacias e guinadas de macacos, esvoaçando com os pássaros, seguindo insetos para cima e para baixo, para frente e para trás.
Da mesma forma, mergulharam nos rios e nas florestas alagadas, comeram frutas caídas com tambaqui, seguiram cardumes de piranhas, se esconderam nas águas rasas com as enguias elétricas. M’boitatá imitou os movimentos e culturas de todas as criaturas vivas, de todas as plantas que ondularam, estremeceram, ou se agitaram no vento ou na chuva, no florescimento ou na morte.
M’boitatá, língua-pênis, imitou, cantou e conversou com todos os sons animados e inanimados.
M’boitatá, pênis-língua, persuadiu, fez pose, dançou e tocou, provocando o desejo em todos as coisas viventes. Moleque e malandro, espírito incorporado e anjo sensível.
Mas, deve ter havido algum aspecto negativo. Afinal, M’boitatá era meio feio e muito desengonçado. Nem sequer pareciam um passarinho bonito.
Quem sabe uma aranha bonita?
Você se lembra da vez quando M’boitatá tentou trançar uma teia com suas fezes? Que sujeira.
M’boitatá comia o detrito de todo mundo: cocô, guano, teia de aranha, pele descascada, asa, concha, putrefação. Vasculhando como faziam e dando com essas coisas, era por curiosidade.
Comida processada.
Com toda honestidade, M’boitatá comia tudo e qualquer coisa, um comedor sem discriminação, um reciclador ambiental.
Provador de sabores. Gastronômico e connoisseur. Palato hiperexercitado. Gastronomismo.
Iron Chef.
Estômago de ferro. A floresta era seu próprio banquete, reciclando-se em si mesma.
Exuberante. Extravagante. Superabundante. Ninguém deve ficar com fome. Isso não é o paraíso?
Ninguém podia ficar com fome. Se você pudesse ficar com fome, seria uma pessoa melhor?
Melhor o quê? Eu sou uma papagaia. Que tipo de pergunta é essa?
Cuspido dos genitais combinados de Mãe Língua e Pai Pênis, o bebê M’boitatá era tão bonitinho, embalado naquela chuva leve e naquele ninho perfeito de pedra.
Mãe Língua lambia e cantava cantigas de ninar. Pai Pênis cutucava e fazia cosquinhas.
M’boitatá, aninhado e bem cuidado, absorvia o som e a sensibilidade. Um dia, grande demais, caíram do ninho de pedra, rolaram para longe e iniciaram a descoberta de seu mundo, viajando na estação chuvosa com os pássaros, borboletas, macacos e peixes de um lugar a outro e pausando na estação seca para provar uma concentração tribal uma após outra.
Peregrinações nômades, zigzagueando pela floresta, provando cada desejo e delícia.
Numa estação seca, M’boitatá conheceu AiAi. Talvez fosse o arco-íris cintilante. Ela estendeu o braço gracioso e ousado, abrindo sua cortina e apareceu, deslumbrante, a criatura mais linda que M’boitatá já tinha presenciado.
E, com certeza, a essa altura, tinham estado em toda parte e visto tudo.
Como podiam não ter nunca se deparado com AiAi?
Um ser mítico invocado por AiAi. Uma apsará tropical.
Ah, mas um metamorfora sem dúvida. À noite, ela voltava a seu segundo eu.
Que segundo eu?
Uma preguiça peluda, pendurada de cabeça para baixo e que se movia devagar.
À noite, M’boitatá podia se aconchegar na imensa rede de balanço que era seu corpo.
AiAi AiAi AiAi.
Pra encurtar a história, se apaixonaram.
Você quer dizer, eles e ela se apaixonaram. São precisos dois para se dançar o tango.
Não se dança o tango no Brasil.
A partir daquele momento, M’boitatá e AiAi peregrinaram sempre juntos, dividindo uma vida nômade.
Muitos anos de nomadismo, convivendo com cada tribo.
Todas as quatrocentas?
Yanomami, Xipaya, Wariku, Txikao, Sikiama, Saliba, Nutabe, Mayorun, Nanao, Kayapo, Kandoshi, Haumbisa, Duit, Cashibo, Bora, Baniya, Arua, Arabela, Zoe, Yaminawa, Wirina, Wapishana, Tuxinawa, Shuar, Poyanawa, Muiniche, Matis, Madi, Kaxuiana, Jurti, Huachipaeri, Deni, Cara, Baure, Bakairi, Arawak, Apurina, Amuesha, Aikana, Yawanawa, Yabirana, Wayana, Waiai, Tubarão, Shibibo, Pasto, Munduraku, Maco, Kaxarari, Jebero, Hixkaryana, Chayahuita, Capanahua, Bare, Atruahi, Arawa, Apinave, Amarekaeri, Aguaruna, Yawalpiti, Yabaana, Waura, Vilela, Tacana, Sharanahua, Paresi, Mvima, Mrubo, Mchiguenga, Katikina, Irantxe, Guarequena, Chamicuro, Cahuarana, Bara, Ashaninka, Arara, Apalai, Amahuaca, Achuar-Shiwiar, Yaruma, Xiriana, Warao, Urarina, Suruwaha, Saluma, Palikur, Meinaku, Maquiritari, Kuikuro, Kankuamo, Huarayo, Guarani, Cashinahua, Bororo, Baniwa, Aruan, Araona, Ankoke, Akurikyo, Achagua.
Um dia, M’boitatá e AiAi por acaso encontraram uma tribo nova, os Fraugudomijesu.
Não eram bem uma tribo.
Não uma tribo per se. Mais como um mocambo de missionários fugidos e excomungados da teologia da libertação.
Libertação?
Liberem os índios.
Que noção. E depois?
Eles acolheram M’boitatá e AiAi e os incorporaram em seu rebanho.
Incorporados como bananas amassadas na massa de bolo de baunilha.
Mas, felizmente, não cozidos. Eles escaparam.
Ouvi dizer que foram pegos em flagrante.
Mas você pode imaginar a tentação que deve ter sido consumir parte daquele corpo loiro lindo, deitado em estado catatônico sob luzes suaves.
Só se você for um urubu.
O que comeram? Os dedos? Os dedos do pé? O nariz? As orelhas?
Quem sabe? Talvez os mamilos. Cada um comeu um. E depois correram, aquela tribo de malucos correndo atrás deles.
Felizmente, era o romper da aurora e AiAi se transformou de preguiça noturna em seu eu acrobático voador e visceral. Correram como o vento, os pés de M’boitatá girando aqui e ali de forma que seus rastros ficaram ininteligíveis.
E aquele bando de libertadores gritando histericamente atrás deles para todos os lados: O sangue de Jesus! O sangue de Jesus!
Foi uma fuga emocionante, finalmente saltando de uma cachoeira enorme, surfando a cascata resplandecente, despencando, depois se sacudindo, depois flutuando até chegar à beira-mar.
Beira-mar em Uwattibi.
Onde os Toppinikin tinham se estabelecido estrategicamente em uma baía aparentemente segura e serena, para pegar aqueles exploradores desinformados, vindos para colonizar os selvagens.
Mal sabiam eles.
Como turistas, remaram em seus barcos com bugigangas até aquela baía aprazível e calma, em busca da zona de prostituição. Os Toppinikin ficaram lascivamente nus e saudaram aqueles homens de pele rosada como se fossem os primeiros a jamais chegar ao paraíso.
Era uma cilada.
Foram tratados muito bondosamente. Alimentados e servidos sexualmente. Engordados e engordurados. Uma dieta puramente orgânica. E criados soltos.
Não havia para onde ir.
Por que iriam querer deixar o paraíso?
Mas, e M’boitatá e AiAi?
Ah, eles já eram morenos e nus; simplesmente se misturaram com os nativos.
Uwattibi acabou se mostrando muito cosmopolita.
M’boitatá e AiAi podiam passear pelas feiras ao ar livre, a doce fumaça da humanidade churrasqueada no ar. Os comerciantes os chamavam, os convidavam a provar, um pedacinho saboroso de francês, português, alemão ou holandês cuidadosamente cultivado. Um espetinho misto, por favor.
Ai que gostoso! E o indígena?
Sabor um pouco de caça, carne bem magra e um pouco fibrosa, mas certamente multicultural.
Ao contrário do sabor sofisticado do estrangeiro gorducho. Um deleite para o carnívoro, mas não podia durar para sempre.
Talvez tenha sido o negócio de exportação. Talvez aquele cara, Brillat-Savarin escreveu um artigo e o povo ficou ganancioso. Quem sabe. Antes disso, todo mundo era nutrido e satisfeito, um ideal utópico. Então, eles quiseram mais.
Fênix e unicórnios. Desejo pelo mítico.
Um dia, alguém descobriu que a linda AiAi virava uma preguiça de noite. Ela era inacessível à luz do dia, mas no escuro, pendurada de uma árvore, era a criatura mais lenta da floresta. Uma apsará da floresta, uma encantada. Como seria comer uma criatura tão deslumbrante?
Como comer a própria afrodísia?
M’boitatá e AiAi ouviram os boatos. Criaram um plano de fuga, mas AiAi sabia.
Depois do dia vinha a noite, repetidamente.
Os Toppinikin mandaram seus melhores caçadores; não haveria saída.
No meio da floresta, M’boitatá coaxou e coaxou e centenas de rãs—amarelas, azuis, verdes, vermelhas, cor de cobre, douradas—ouviram sua chamada de amor.
AiAi pressionou seus lábios em cada rã fosforescente e sugou suas glândulas venenosas. Então, ao cair da noite, ela se dependurou preguiçosamente, M’boitatá se aninhou em seu colo suave e barriguinha aconchegante. Eles se amaram docemente e dormiram. Os caçadores chegaram, sem suspeitar de presas tão fáceis. AiAi caiu no chão da floresta e M’boitatá fugiu para o cume do dossel.
Em Uwatibbi, os caçadores foram agraciados com honras e grande cerimônia e AiAi foi atada e recriada em uma extravagância culinária, uma lasca de seu corpo envenenado provado por todos.
Seu cadáver primoroso e fatal.
E assim foi que a tribo inteira dos Toppinikin desapareceu da face da Terra.
De coração partido, M’boitatá vagou em uma direção que imaginou como sendo de casa. Ao longo do tempo—de sua própria existência—o gotejar da água tinha esculpido um ninho maior no local de nascimento que era a bacia de pedra.
M’boitatá se enroscou dentro daquela tigela escorregadia e esperou. Esperou pela dissolução da pedra e de si mesmo.
Tatá tatá tatá.
Fim.
Words by Karen Tei Yamashita and Ronaldo Lopes de Oliveira.
Image by Ronaldo Lopes de Oliveira.
Translated into the Portugese by Ana Maria Seara.